Saturday, June 25, 2005

Imperfeição...

Na imperfeição está a perfeição,
De não ser grande, transcendente.
Transcede o transbordar dos rios
O flutuar dos cabelos ao vento,
Os regatos silenciosos descendo
As pedras: nada transcede o gesto.
Sermos uno aqui, ali ou depois
Da noite bocejar sorrisos infantis
Para quem ama na escuridão.
Transcede o clarão que apaga
O que se alcança tão longe,
Tão perto nos sentidos nossos.
É gosto de cheiro e sabor visto
Quando encerramos o livro
Com um brilho no olhar.
Nada se teme quando
Se transcende a imperfeição.

Eu espero, é isto. E sou Feliz.

Thursday, May 12, 2005

Saibamos isto...

De que interessa o saber definitivo das coisas... Não é por isso que somos mais felizes.

Sejamos breves enquanto donos da verdade,
Não há verdade que permaneça intacta.
Cortemos as nossas unhas enquanto é tempo
Para mais tarde não arranharmos em nós mesmos.
Percamos a fé em deuses ocultos,
Afinal, eles nunca existiram.
Sujemo-nos, enlameados, enquanto crianças.
Saberemos, mais tarde, que a lama suaviza a pele.
Comentemos o alheio sem interesse.
Um dia, todos quererão saber de nós.
Soltemos, para sempre, o que nos une:
Afinal, o mundo nunca esteve unido.

Nádia Fortes
04/08/2004

Friday, May 06, 2005

Dos Nossos Olhos

Dos meus olhos para ti... Tudo o que eu queria agora e não posso ter...


Dos nossos olhos

As janelas que se abrem de manhã
Não mais que em navios passageiros
São o encanto do ausente ou do cheio
Que em corpos se ligam ao mar.

São mariposas suspensas que se beijam,
Amantes que se tocam no vazio,
E em delicados movimentos nos deixam
Num arrepio perdidos de paixão.

Do fundo, do negro, do invisível
Jaz no ninho um tímido rouxinol
Que canta ao som dos olhos perdidos
Quando sua bussula em outros achou.

Em metáforas vos descrevo e anseio
Que o meu pássaro de alma cante
Quando a bussula do teu olhar perdido
Invadir de mar a janela do meu navio
.

Nádia Fortes
29/07/2003


Friday, April 22, 2005

Almas Vazias

Vinha hoje embora da faculdade, constatei de novo a pequenez de tantas pessoas...
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Embaladas pela noite viva
Noite falsa, de enganosos sorrisos
Mais madrasta dos evitados que, virando
A esquina, dormem gélidos
Em colchões de ladrilhos.

Alugam o mundo sem licença,
Cultivam terra seca com risos formais,
Pisam o cigarro velho de ocasião,
Transpiram alegria impura
Ou conversas banais.

São anjinhos de um céu vulgar,
Reclamam asas de seda para voar.
Mas até as de retalho voam, e mais alto,
Se almas tiverem abertas e
Capazes de sonhar.

É gente de tamanha pequenez,
Música afinada, letra que a nada soa.
Frascos deslumbrantes, e de tampa solta,
Perfumes que cheiram a água,
E até enjoa!

Talvez seja eu o anjo negro,
Ausente do presente e real,
Que constatou numa noite alegre,
O que lhe enojou para sempre:
Gente de alma vazia, superficial...

NF

22-10-2003

Tuesday, April 19, 2005

Reflexos na Bruma


Entristece-se o manto efémero
No franzir embalado da cortina,
Recolhendo suas velhas lantejoulas
De velhos brilhos da nossa vida.
Todo o tempo cessa em retalhos
O que outrora foi euforia.
Serão areia os amores jovens,
Da velha praia onde atracarão
Os nossos dias... Quão frágeis
São os laços que nos unem ao infinito,
Deixando a solidão ser nossa companhia.
Prevendo o fluir dos anos na bruma,
O espelho do futuro reflecte
No meu olhar aquilo que agora vejo:
Eu, lerda, enrugada, só, distante,
Sentada num velho banco de ferro,
A mirar o rio Tejo.

Nádia Fortes
30/08/2004

O Menino



É impossível não ter sonhos,
Os teus não têm um sorriso
Mas um olhinho triste quando passas.
Longe vens ainda e já sei que
Mais um dia de fadiga te juraram,
És tu, noctívago como quem trabalhar
Enquanto a noite existe, retornando
Quando é dia disfarçado.
Que pensas tu, ou será que pensas
Por que estás deambulando com
O teu acordeão pelas carruagens.
A tua música é alegre, mas o tilintar
Das moedas carrega-a de melancolia.
Sai daí, és um menino! Vai à
Superfície e aproveita a luz do dia.
Gasta essas míseras moedas em
Guloseimas, pula, ri e grita! Leva
O teu mordomo que com tanta
Pose te acompanha, para
Brincarem juntos até caírem em
Cima da relva fresca, com o cheiro
A Primavera! O teu mundo de criança
É para isso. Mas, de certo, as
Tuas noites não são fadas, talvez
Frias e descansadas. E no outro dia
Lá estarás, quando eu descer para
Mais uma viagem, a tocar o acordeão
Com o teu olhar meigo e desamparado,
Enquanto o teu cachorrinho segura com
Firmeza o copo onde tilintam as moedas.
Como é fácil deixá-las cair, sem olhar
Para quem tu és, um menino que não
Quer estar ali.

Gostava que alguém te levasse
Para passares um dia no teu
Mundo de criança.

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Dedicado ao Menino no Metropolitano

Nádia Fortes
11/04/2005

Friday, April 15, 2005

Eu...Estou aqui!

Finalmente decidi criar o meu blog... Às vezes o tempo é escasso, no entanto, vou procurar mantê-lo sempre actualizado. Porque a minha droga é escrever, em momentos que não há mais nada que alivie a minha inquetação (de onde ela vem, também não sei...). Não vou apresentar-me ao pormenor, conheçam-me através do que escrevo; às vezes confuso, outras vezes simples :) Just me, Nádia Mateus Fortes

Se eu voasse como um pássaro

Aqui há uns meses decidi reunir tudo o que já tinha escrito até hoje. Encontrei algumas poesias que escrevi quando tinha 7 anos. Talvez um pouco primárias, no entanto, gostei de relembrá-las. Deixo-vos aqui a primeira, escrita mal comecei
a juntar letras e palavras.



Se eu voasse como um pássaro

Gostava de voar
No alto do mar.
Vivia livre e sem dor
Trazia a natureza
Sempre com amor.
Chorava com a chuva
Voava com o vento,
Gostava de à noite
Sentir o relento.

NF
7 anos