Quero contar-vos sobre um acontecimento marcante dos anos 80 e 90, chamado "Verão na Praia da Nazaré".
Tinha o seu auge aos sábados, depois do almoço: saboreava-se o frango da churrasqueira local, acompanhado pela batatinha Estrela d'Ouro e bebia-se a inocente Coca-Cola. Havia quem o fizesse em casa e havia quem o fizesse pelo caminho, em jeito de pic-nic, na mata nacional. Quem o fizesse por casa rematava a refeição com uma espreitadela no Top+ da RTP e uma bica apressada.
Era assim que se ganhava forças para a melhor tarde do mundo, a apenas a alguns quilómetros de distância.
Após o almoço calçavam-se os chinelos e arrumavam-se as boias no carro, dando início à procissão pela Nacional que se afunilava às portas da vila da Nazaré. Sem exageros, eram centenas de veículos a conduzir as famílias da região. A afluência era tal que contava-se 1h até conseguir parqueamento; e mesmo já tendo passado em frente da marginal uma ou duas vezes, não desmotivava a ideia de caminhar 2 ou 3km aonde se conseguisse "arrumar" o carro.
Muitas vezes o carro arrumava-se em cima do passeio, em cima de mantos de areia, em frente a portões privados... Mas isso não importava. Finalmente estava arrumado e, então, rumava-se até à praia. A percussão dos chinelos no passeio ou no alcatrão era graciosa, sendo o caminho geralmente a descer
(quem conhece a Nazaré entende bem). Nos edifícios havia marketing próprio da altura, mais propriamente escrito em cartão "Arrenda-se quarto / Zimmer / Chambre". E resultava.
Assim era até chegar ao areal, que em Julho e Agosto fazia o pé escaldar. Havia quem procurasse sentar-se à beira-mar e havia quem tivesse uma barraquinha alugada, o que evitava a procura de um cantinho onde coubesse 3 ou 4 toalhas turcas. Mal se achasse esse cantinho não havia mais demoras: caminhava-se ansiosamente em direção à beira-mar para ousar o prazer do Atlântico. Era o cume do dia. Não havia medo, frio nem frango assado no estômago: só havia alegria. Três passo atrás, cinco à frente e ultrapassava-se a rebentação.
Finalmente tudo estava bem, validado pelas centenas de pessoas naquela linha de costa. Poucos minutos depois começava a surgir um calafrio dos pés até ao pescoço, sinal que estava na hora de voltar à toalha. Mais umas braçadas e largava-se se a força do mar com um "até já" no pensamento. A recompensa era aquecer no sol e reforçar energias com uma Bola de Berlin que estava para vir. Além das ondas, outra diversão era a cavidade argilosa de "Todos os Santos" na zona norte da praia, onde se curavam todos os males de pele. O verdadeiro e único benefício dessa aplicação era evitar escaldões, que só por si era um milagre. O dia estava ganho.
Aproximavam-se as 17h, davam-se os últimos mergulhos e vinha então à consciência onde o carro estava "arrumado" e se ainda haveriam forças para lá chegar. Claro que sim...
Depois da Bola de Berlin ou do Mil Folhas, da Batel, tudo se tornava possível outra vez. A areia já não escaldava tanto, a argila já havia secado e restava o sal no corpo de recordação. Assim se voltava para o carro, a "achinelar" bastante menos e a sonhar com o próximo dia de praia, naquela altura em que não havia telemóveis, mas se sabia que estávamos todos por perto com o mesmo sonho de sábado à tarde realizado.
O meu retrato em poesia
A poesia é a minha expressäo do que aqui vai
Tuesday, January 23, 2024
Ó Tempo... Volta para trás! (só para momentos bons) #Verão na Nazaré
Wednesday, March 03, 2021
Cansaço
O homem está cansado,
Vai trabalhar,
Vai correr,
O homem está cansado,
Vai estudar,
Vai fazer,
O homem continua cansado,
Vai casar,
Vai ser pai,
O homem está cansado,
Vai ao bar,
Vai trabalhar,
Está na moda estar cansado?
Vai ao médico,
Toma curas,
O homem continua cansado,
Cansado, cansa muito,
Ser crime ter descanso.
Saturday, October 06, 2018
Pouca gente
É melhor ter pouca gente
Por perto, a quem cantar
Uma canção. Duas frases e
Uma eterninade de atenção.
Há pouca gente por perto
A quem podemos contar o
Certo. Não me chamem
Bicho do mato a curtir
A solidão. Só quero ter
Por perto quem merecer
O meu perdão.
NF 06-10-2018
Por perto, a quem cantar
Uma canção. Duas frases e
Uma eterninade de atenção.
Há pouca gente por perto
A quem podemos contar o
Certo. Não me chamem
Bicho do mato a curtir
A solidão. Só quero ter
Por perto quem merecer
O meu perdão.
NF 06-10-2018
Wednesday, October 03, 2018
Eu queria
Queria fazer do tempo
Uma coisa passada
Queria saber menos
E parar ao menos
Para poder reflectir.
Queria deixar de ver
E passar a sentir mais
As minhas passagens.
Queria adormecer e
Saber dormir.
Queria voltar a mim e
Dizer-me "cheguei".
Quero menos que antes
Com um querer maior.
Uma coisa passada
Queria saber menos
E parar ao menos
Para poder reflectir.
Queria deixar de ver
E passar a sentir mais
As minhas passagens.
Queria adormecer e
Saber dormir.
Queria voltar a mim e
Dizer-me "cheguei".
Quero menos que antes
Com um querer maior.
NF 03-10-2018
Thursday, March 01, 2018
Crescer
Há coisas tão simples
Que nos deixam infelizes a seguir.
Há uma espécie de estrada
Que segue a caminho duma geratriz.
Há um monte ao lado da lua
Onde faço acontecer cá em baixo,
E olho de longe o quão perto parecem
As brigas que deixámos no quarto.
Há um buraquinho no centro
Que ainda não ficou bem sarado.
Há um túnel com paredes em chamas,
Dentro do meu monte sagrado.
Houve muito daquelas alturas, em que
Tu deixaste tudo por fazer.
E eu cá me virei sozinha, a sentir-me
Outra vez Pequenina, a ter de crescer.
NF 01-03-2018
Que nos deixam infelizes a seguir.
Há uma espécie de estrada
Que segue a caminho duma geratriz.
Há um monte ao lado da lua
Onde faço acontecer cá em baixo,
E olho de longe o quão perto parecem
As brigas que deixámos no quarto.
Há um buraquinho no centro
Que ainda não ficou bem sarado.
Há um túnel com paredes em chamas,
Dentro do meu monte sagrado.
Houve muito daquelas alturas, em que
Tu deixaste tudo por fazer.
E eu cá me virei sozinha, a sentir-me
Outra vez Pequenina, a ter de crescer.
NF 01-03-2018
Friday, May 05, 2017
Menino
Gostava de ser menino
Como igual a mim
Franzino, a fugir
Dos meus pés e do meu
Caminho. A fugir
Para as saias da mãe
Quando algo não corre
Bem. Dar um pontapé
Na bola e ter desculpa
A toda a hora. Gostava
De saber pouco do
Que sei pouco e responder
Torto. Às vezes sonho
Ser menino e fico bem.
NF
05-05-2017
Monday, April 17, 2017
Como Ser
É tempo de ser uma espiga maior
É tempo de ser um caminho veloz
É tempo de sermos o que tempo escreveu
É tempo de sermos só entre nós
Num lugar tão vazio
Temos a alma tão funda
Colhemos segredos
Antes dos dias de chuva
Marcámos os traços
De uma forma tão fria
Com ponta afiada
A mandato da vida
É tempo de ser como a vida ditou
É tempo de ser um horizonte melhor
É tempo de ver o que os olhos não viram
É tempo de ser a tua vontade e a minha
NF 18/04/2017
É tempo de ser um caminho veloz
É tempo de sermos o que tempo escreveu
É tempo de sermos só entre nós
Num lugar tão vazio
Temos a alma tão funda
Colhemos segredos
Antes dos dias de chuva
Marcámos os traços
De uma forma tão fria
Com ponta afiada
A mandato da vida
É tempo de ser como a vida ditou
É tempo de ser um horizonte melhor
É tempo de ver o que os olhos não viram
É tempo de ser a tua vontade e a minha
NF 18/04/2017
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